Famílias de Itirapina (SP) denunciam que os ossos
de parentes enterrados no cemitério da cidade estão sendo retirados dos túmulos
sem autorização. O local não tem mais espaço para novas sepulturas e, segundo
os moradores, a Prefeitura está vendendo os locais para novos enterros. A
reportagem do Jornal da EPTV flagrou restos mortais sem identificação em uma
capela. O Ministério Público abriu inquérito para investigar os casos. O
prefeito Zé Maria (PMDB) disse que as denúncias serão analisadas e que o
cemitério será ampliado.
A dona de casa Luzia da Rocha e a filha Vilma da Rocha levaram um susto
quando foram visitar o túmulo onde a cunha foi enterrada em 2007. O local
estava com o nome de outra pessoa e, inconformada, Luzia procurou o
coveiro. “Falou que tinha sido vendido mesmo o tumulo e que a responsabilidade
era da prefeitura. Que ele recebeu ordem, veio um fiscal da prefeitura,
fotografou o tumulo e, em seguida, veio a ordem para retirar os ossos dela”,
disse.
O pagamento da sepultura chegou a ficar atrasado por quatro meses, mas
ela refinanciou a dívida e mostrou o carnê com as prestações. “Ele falou que o
problema não era com eles. O problema era com a Prefeitura e que ele era
funcionário e só recebia ordens”, afirmou.
Outra surpresa foi quando a família soube que os ossos foram trazidos para
uma capela no cemitério e colocados em sacos de lixo. Apenas um saco
estava identificado com o nome de uma pessoa. “Falaram: Deve ser esse aqui. Não
tinha nome, não tinha identidade, simplesmente jogados ali dentro”, reclamou
Vilma.
A reportagem da EPTV foi até a capela e o coveiro abriu o saco e mostrou
os ossos. “Como aqui não esta cabendo mais ninguém, não tem espaço nenhum para
abrir nenhuma sepultura, se lá não constar que está pago, aí eles dão permissão
para tirar”, disse o homem.
Como a gente vai saber quais
são os ossos dela? Não tinha nome, não tinha identidade, simplesmente jogados
ali dentro. É muito triste, é muito desagradável o que a gente está
passando"
“Como a gente vai saber quais são
os ossos dela? Não tinha nome, não tinha identidade, simplesmente jogados ali
dentro. Por sinal nem sabe qual destino vai ter. Ninguém soube responder para a
gente o que vai acontecer na verdade. É muito triste, é muito desagradável o
que a gente está passando”, lamentou Vilma.
A diarista Regina Célia da Silva enfrentou o mesmo problema e descobriu
que o túmulo da mãe foi vendido porque as prestações estavam atrasadas. Os
ossos também foram parar na capela do cemitério. Indignada, ela fez uma denúncia
ao MP de itirapina, que abriu.
“A sepultura era minha e eles não falaram nada, não avisaram. Eu acho um
descaso. A pessoa que mexe com isso, está mexendo com a morte, mas também está
mexendo com a vida de outras pessoas. Setembro faz 14 anos que minha mãe morreu
e eu não vou ter um lugar para levar uma flor, fazer uma oração. Está
chegando novembro, e como eu vou fazer?”, questionou.
Para o advogado Guilherme Deriggi Goes, a prefeitura não deveria ter
revendido os túmulos. “Caso a pessoa tenha atrasado essas parcelas, esse não é
o meio mais viável para se cobrar o pagamento de uma dívida. Deveria a
prefeitura cobrar por execução fiscal ou através de penhoras no nome da pessoa,
penhora de bens, negativar o nome, mas jamais retirar o túmulo de uma pessoa”,
explicou.
Fonte EPTV